quarta-feira, 30 de maio de 2012

Jornalismo Comunitário

Uma das principais dificuldades em se fazer um jornal comunitário é integrar-se à realidade da instituição / espaço para o que se escreve. De nada adiante escrever para um público sem identificar-se com ele. Há dez anos, edito bimestralmente o Jornal da ASFF – informativo da associação de funcionários do Hospital de Base e da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, aqui no interior de São Paulo.

Juntas, as duas instituições reúnem pelo menos 5 mil servidores. Em cada edição, uma tiragem de 3,5 mil exemplares que, aceitando-se que chegam em pelo menos três pessoas dentro e fora do complexo HB / Famerp – atingem algo em torno de 11 mil pessoas.


Tá bem, não é nenhuma tiragem de Veja e tão pouco o alcance do Jornal Nacional, mas enquanto a grande imprensa fala ao público, gosto de pensar no Jornalismo Comunitário como uma forma especial de falar ao coração.

Aqui, o texto que assino este mês na edição comemorativa de 25 anos da associação.


O Jornal da ASFF

De todas as amizades e coleguismos que fiz durante os seis anos que atuei na assessoria do Hospital de Base, uma das mais fortes e com a qual eu mais aprendo certamente foi com a ASFF. Não suas pessoas, funcionários ou diretores, mas com a instituição como um todo que, em minha prática diária de comunicador, levou-me a conhecer uma nova forma de fazer jornalismo.

Vindo de redações da chamada grande imprensa e atuações na área de assessoria, parecia fácil fazer um jornal voltado a um público localizado, interno, contido em uma instituição onde, mesmo com seu gigantismo de cidade, limitava-se por muros. Engano meu – apesar dos muros, a alma da associação e daqueles que a compõem não tinha limites.

Tive que reaprender a escrever, usar a primeira pessoa e, mais do que transmitir informações, pensar como um dos membros da casa. Vivenciar suas expectativas, conhecer os temores e, não raro, os problemas... maior porta para nosso crescimento. Diferente de qualquer outro jornal, onde nossa função narrativa se encerra a cada edição, o Jornal da ASFF fazia a cada vez mais que os problemas também fossem meus, que eu os quisesse vê-los resolvidos e, mais ainda, ajudá-los a resolver.

Tenha sido na reconstrução de casas, na consulta antecipada, na cesta básica que chegou em boa hora... Fosse no auxílio da hora difícil, a alegria do nascimento, a dificuldade até a conquista... Foram nas minhas próprias dificuldades e pedras, nos momentos de distanciamento ou proximidade, no evento concluído ou daquele que nem nasceu, é impossível não se envolver. 

Então, quando depois destes dez anos de atividade no Jornal da ASFF olhamos as edições antigas, como dizer que não aprendi? E quem ensinou? Cada uma das pessoas que me presentearam com seu tempo e histórias, relatos de vida e experiências que tive a licença e o prazer de levar ao papel para, através das palavras, ver olhos que brilhavam. 

O Jornal da ASFF me ensinou a ser mais um dentro de uma imensidão de grandezas, a fazer parte e a dividir e, ainda que o aprendizado nunca acabe, impossível não dizer que este talvez tenha sido um dos maiores deles. É fácil demais ser diferente, o difícil é ser igual.

Fazer parte é integrar-se, é lutar junto, é buscar o melhor. É sorrir mesmo pela manhã quando uma entrevista é marcada na virada de plantão e enquanto tento domar o mau humor matinal que me domina, olho quem virou a noite dedicando sua atenção a esta casa ainda sorrindo enquanto, do outro lado da avenida, espera o ônibus para o próximo trabalho.

Fazer parte da ASFF é mais do que prestar serviço para uma entidade que cuida das pessoas, mas, principalmente, me dar a oportunidade de ter uma família com pelo menos 3,5 mil membros.... e aprender com eles a cada nova edição. A cada um de vocês, sou imensamente grato por isso.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Redes sociais e mídias sociais ou... sobre quando fragmentaram nosso espaço público



Há muito se foi o tempo em que éramos donos, total e absolutos, de nossos próprios destinos, decisões e opiniões. O advento da internet e das mídias sociais, agregadas aí aos mecanismos que nos levam à comunicação imediata de onde quer que estejamos, mudou nossos ritmo de vida, comportamentos e, mais recentemente, o preço que pagamos por tudo isso.

Este foi o tema de um bate papo que tivemos hoje com alunos da escola estadual Jamil Kauam, aqui mesmo, em São José do Rio Preto onde, com alunos dos três anos do Ensino Médio, debatemos um pouco sobre as mudanças que as novas tecnologias da comunicação implicaram em nossas vidas.

Eu, do tempo em que provas de amor eram dadas por palavras e alianças no dedo. Eles, da época em que amor é atestado com senha de Facebook coletivo. Eu, do tempo do telefone de ficha; eles, telefone de ficha?! Eu, do tempo das cartas, eles, da troca de MSN... Sim, todos sabemos usar as novas tecnologias para encurtar nossas distâncias ou revelar nossos momentos de alegria, tristeza, raiva, ira, contudo, sabemos pensar as conseqüências disso?

Para citar alguns exemplos entre os que li e os que já vi, um Dj deportado da Austrália por conta de um post no twitter onde, no período de férias que passaria naquele país, indagou a um amigo sobre a possibilidade de tocar em alguma festa gringa. Foi interpretado pela imigração como trabalhador ilegal. Um jornalista, ao final de um teste de seleção para trabalhar na redação do Globo Esporte, foi eliminado pelo mesmo motivo – dias antes da entrevista, havia criticado com palavras duras um dirigente de futebol. O consolo? Quem averiguou seus post no twitter foi o próprio Tiago Leifert.

Mais próximo, uma amiga desabafou ao meio do dia que não suportava mais a pressão do trabalho. Não teve que voltar a ele no dia seguinte. Um outro, no mesmo tom de desabafo, tentou reverter o assunto quando o foco de seu cansaço se manifestou também pelo Facebook e ao pensar que saíra sutilmente pela tangente foi delicadamente advertido com um “...tá esperto heim...” pelo próprio alvo de seus lamentos.

Cada vez mais, empresas voltam-se a nossa vida social virtual para conhecer quem contratam, como contratam e, em especial, se devem ou não contratar. Estar atentos a isso o quanto antes é fundamental para evitar surpresas no futuro. Os tempos mudaram, nossa forma de comunicação mudou e, com elas, também suas conseqüências.

Para entender um pouco mais, dois endereços bastante úteis para que possamos aprender a principal lição quando se fala em rede e vida social – cautela, sempre!




quarta-feira, 9 de maio de 2012

Seminários... a maçã dos tempos modernos







“..e então, no final da aula, quando todos saíam apressados buscando a liberdade lá fora, um deles, despretensiosamente, nos deixava uma maça sobre a mesa...”


Há muito se foi o tempo das maçãs dadas aos professores – eu mesmo nunca ganhei nenhuma – mas como me agrada ver que as maçãs, assim como os alunos, têm mudado cada vez mais. Uma das formas mais intensas de aferir esta mudança é com a aplicação de seminários.

Não aqueles seminários em que um tema é dado e, em uma atitude passiva, você ouve e dá nota aos que mais te agradaram. Tão pouco aqueles em que a cada fala o professor interfere, numa tentativa desnecessária de mostrar que também ele conhece o tema tratado. Mas sim, o seminário que envolve aos poucos, que desbrava os tímidos, que destrava línguas e falas, que compartilha e trabalha nossa capacidade mais necessária enquanto comunicação – a fala!

Esta tem sido a semana de início da colheita de maçãs. Das mais maduras às mais verdinhas. É tempo de conhecer um pouco os efeitos do preparo da terra, da irrigação à semente e o quanto cada uma das pequenas árvores que nos passam diariamente se fortaleceu.

É engraçado ver que mesmo com um trato igual a todas elas, cada uma voltou seus galhos de forma diferente ao gosto do mesmo vento. Sempre existem aquelas com um natural dom de desenvolvimento, que trazem boas maçãs com pouco esforço ou utilizando para isso o dom natural que sempre tiveram tanto na produtividade quanto na fala (especialmente, na fala). Estas são naturalmente produtivas, exigem menos. Há aquelas que, mesmo produtivas, insistem em guardar para si suas maçãs. Não por egoísmo, mas pela dúvida de saber se o fruto que têm a oferecer é bom ou não. Contudo, existem ainda aquelas franzinas, com frutos incertos, não maduros o suficiente mas que ainda assim nos ofertam o que têm, verdes... mas com um futuro de amadurecimento certo. É inegável que estas são as que mais me agradam; não pela fragilidade, mas pela certeza de que se tornarão fortes.

E então, em meio a todas as maçãs, ainda tem aquela árvore que mesmo ferida não se recusa a oferecer seu fruto e ainda que a colheita tenha que esperar mais um pouco suporta a dor dos galhos quebrados com um sorriso pequeno, mas sincero.

A colheita vai se estender por pelo menos duas semanas ainda, mas é bom dizer.... minhas maçãs são lindas!

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Assessoria de imprensa... quanto vale seu reconhecimento?



Recentemente, em uma das turmas de assessoria de imprensa, a discussão sobre os passos para a implantação de um processo de comunicação precedeu uma das perguntas mais freqüentes nesta aula... “Professor, quanto cobrar por um trabalho como este?

Gosto de pensar que a pergunta seria “...como fazer seu trabalho ser valorizado” e, antes de formular qualquer resposta, penso que o respeito prévio já no processo de contratação de uma assessoria de imprensa é fundamental.

A resposta, algo profética, valeu-se de situação já vivenciada e, hoje, repetida. Explica-se. Desde outubro do ano passado tenho encaminhado propostas de assessoria em comunicação para um cliente em potencial e seu evento, algo gigante, que acontece no final deste mês.

Da total ignorância aos meus contatos às respostas improváveis como “ainda não tive tempo de abrir seu e-mail”, a melhor delas foi que o evento se daria em um local específico, longe de minha área de atuação e que provavelmente lá eu não teria tanto impacto na mídia.... Certo.... certo.... Tudo bem, sempre achei que jornalista é jornalista em qualquer canto, aqui ou lá, e que embora não freqüente a casa de nenhum deles na capital com a mesma freqüência como tenho com meus pares locais, meu trabalho seria o mesmo.... Tudo bem. 

E então, como isso acaba?

Quando estudamos projetos em assessoria de imprensa, junto a divulgação do próprio evento, temos que levar em conta que nosso papel de comunicadores deve também gerar lucro para este cliente. Ótimo aparecer em um noticiário de peso mas, efetivamente, quantas pessoas serão atraídas por esta matéria após sua publicação e se transformarão em lucro! 

Não crianças, não somos apenas comunicadores, mas parte do grande motor econômico de qualquer empresa ou evento e tão logo este motor comece a apresentar queda de produtividade, será em nós que serão apontados os dedos que antecedem os primeiros cortes.

Assim, para que um projeto de comunicação renda resultados positivos ao cliente e, em especial, a nosso próprio portfólio, é preciso um tempo mínimo onde as etapas de planejamento em comunicação sejam desenvolvidas a contento. Conhecer o cliente e suas expectativas, desenvolver uma estratégia de comunicação e ativá-la são processos que não se concretizam de um dia para outro.

Infelizmente, na grande maioria das situações, pensa-se em tudo. Do material gráfico aos jantares oferecidos. Das hospedagens dos palestrantes à marca de vinho servido em um happy hour ao final de um dia de discussões. Evento formatado, às vésperas de sua realização ou, pior, com número de inscrições ainda questionável para que possa ser realizado, lembra-se então da comunicação, da assessoria de imprensa. Tudo leva tempo e implica investimentos e, se sobrar, por fim, a comunicação... É isso mesmo? Infelizmente, às vezes, sim.

Visitas às redações, conhecer os jornalistas com os quais se trata e o perfil da imprensa atingida, o público que se quer alcançar e seus veículos segmentados, a realidade da região onde o mesmo vai se dar e, especialmente, conhecer seu contratante, são passos fundamentais que vão garantir senão um grande número de matérias, seguramente matérias de grande qualidade e retorno. Mais uma vez, nem todos vêem este processo e então, um mês antes do evento, você finalmente é lembrado e convidado a desenvolver um projeto com previsão orçamentária e perspectivas de retorno para algo no qual por pelo menos quatro meses você tentou trabalhar. Desculpe, a resposta é não.

Gosto de pensar que há muito já se foi o tempo em que trabalho devia ser segurado a qualquer preço em detrimento da qualidade com a qual o mesmo é realizado. Posso dizer com conhecimento de causa de que os resultados são piores para você do que para o próprio evento. É a sua imagem que fica e são suas futuras contratações que estão em jogo.

Então, quanto cobrar para um projeto de assessoria em comunicação? Sinceramente, duvido que alguém deixe de pensar duas vezes na hora de responder uma pergunta assim. As respostas podem ir da frieza de cálculos do número de horas gastas versus combustível versus telefone versus internet multiplicado por viagens e hospedagens e somados a seu potencial intelectual. Podem ainda ser dimensionadas com base no grau de afinidade que você tenha ao cliente ou evento proposto, mas, independente de cálculos, penso que o principal parâmetro é o quanto você, assessor de comunicação, será respeitado em suas condições de trabalho. 

Sim, jornalistas trabalham contra o tempo, mas existem situações em que até mesmo esta máxima se faz pensar. Profissionais de comunicação que se dedicam a esta área, jornalistas, RPs, cuidam diretamente da imagem de seus clientes e do sucesso dela esperado. Uma bela obra pode sim ser quebrada da noite para o dia, contudo, sua construção não se dá do dia para a noite.... tão pouco, como última opção de investimento! Pensem nisso.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Conhecimento compartilhado


Boa noite crianças! É com esta brincadeira que há pelo menos dois anos recebo todas as noites alunos dos cursos de comunicação dos centros universitários onde leciono. 

Em 2012, nove turmas, duas faculdades e dez disciplinas diferentes que nos ajudam a entender a comunicação e como fazer dela um adicional que nos melhore enquanto pessoas e comunidade.

Alunos diferentes, dos mais diversos meios e com os mais diferentes objetivos, sonhos, desafios e obstáculos que, ao final de cada dia, fazem com que eu volte pra casa com a certeza clara de que conhecimento a gente compartilha e, em verdade, são eles quem me ensinam.

Vamos trocar aqui um pouco destas experiências, discutir conteúdos, sugerir outros e, com a licença de cada um daqueles que já passaram, dos que ainda estão comigo e dos que virão, fazer da comunicação uma ferramenta que nos aproxime. Licença maior a minha primeira professora, Dirce Candil, já aos cuidados das mãos dos anjos mas que em sua arte diária deixava claro que professor não apenas ensina, mas compartilha o saber que a gente leva para a vida inteira. Àquela senhora que me ensinou a arte que hoje mais me orgulho em conhecer, meu obrigado eterno.

E a vocês, crianças, mãos à obra. Ainda há muito para conhecermos!

Prof. Allexandre
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