Uma das principais dificuldades em se fazer um jornal comunitário é integrar-se à realidade da instituição / espaço para o que se escreve. De nada adiante escrever para um público sem identificar-se com ele. Há dez anos, edito bimestralmente o Jornal da ASFF – informativo da associação de funcionários do Hospital de Base e da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, aqui no interior de São Paulo.
Juntas, as duas instituições reúnem pelo menos 5 mil servidores. Em cada edição, uma tiragem de 3,5 mil exemplares que, aceitando-se que chegam em pelo menos três pessoas dentro e fora do complexo HB / Famerp – atingem algo em torno de 11 mil pessoas.
Tá bem, não é nenhuma tiragem de Veja e tão pouco o alcance do Jornal Nacional, mas enquanto a grande imprensa fala ao público, gosto de pensar no Jornalismo Comunitário como uma forma especial de falar ao coração.
Aqui, o texto que assino este mês na edição comemorativa de 25 anos da associação.
O Jornal da ASFF
De todas as amizades e coleguismos que fiz durante os seis anos que atuei na assessoria do Hospital de Base, uma das mais fortes e com a qual eu mais aprendo certamente foi com a ASFF. Não suas pessoas, funcionários ou diretores, mas com a instituição como um todo que, em minha prática diária de comunicador, levou-me a conhecer uma nova forma de fazer jornalismo.
Vindo de redações da chamada grande imprensa e atuações na área de assessoria, parecia fácil fazer um jornal voltado a um público localizado, interno, contido em uma instituição onde, mesmo com seu gigantismo de cidade, limitava-se por muros. Engano meu – apesar dos muros, a alma da associação e daqueles que a compõem não tinha limites.
Tive que reaprender a escrever, usar a primeira pessoa e, mais do que transmitir informações, pensar como um dos membros da casa. Vivenciar suas expectativas, conhecer os temores e, não raro, os problemas... maior porta para nosso crescimento. Diferente de qualquer outro jornal, onde nossa função narrativa se encerra a cada edição, o Jornal da ASFF fazia a cada vez mais que os problemas também fossem meus, que eu os quisesse vê-los resolvidos e, mais ainda, ajudá-los a resolver.
Tenha sido na reconstrução de casas, na consulta antecipada, na cesta básica que chegou em boa hora... Fosse no auxílio da hora difícil, a alegria do nascimento, a dificuldade até a conquista... Foram nas minhas próprias dificuldades e pedras, nos momentos de distanciamento ou proximidade, no evento concluído ou daquele que nem nasceu, é impossível não se envolver.
Então, quando depois destes dez anos de atividade no Jornal da ASFF olhamos as edições antigas, como dizer que não aprendi? E quem ensinou? Cada uma das pessoas que me presentearam com seu tempo e histórias, relatos de vida e experiências que tive a licença e o prazer de levar ao papel para, através das palavras, ver olhos que brilhavam.
O Jornal da ASFF me ensinou a ser mais um dentro de uma imensidão de grandezas, a fazer parte e a dividir e, ainda que o aprendizado nunca acabe, impossível não dizer que este talvez tenha sido um dos maiores deles. É fácil demais ser diferente, o difícil é ser igual.
Fazer parte é integrar-se, é lutar junto, é buscar o melhor. É sorrir mesmo pela manhã quando uma entrevista é marcada na virada de plantão e enquanto tento domar o mau humor matinal que me domina, olho quem virou a noite dedicando sua atenção a esta casa ainda sorrindo enquanto, do outro lado da avenida, espera o ônibus para o próximo trabalho.
Fazer parte da ASFF é mais do que prestar serviço para uma entidade que cuida das pessoas, mas, principalmente, me dar a oportunidade de ter uma família com pelo menos 3,5 mil membros.... e aprender com eles a cada nova edição. A cada um de vocês, sou imensamente grato por isso.