Pedrinho sorriu, Natália ficou calada durante toda a apresentação e Jéssica, sempre agitada, se aquietou com o que via. De repente, os professores deixaram de lado um pouco da rigidez diária exigida no trabalho com mais de 650 alunos para, como eles, tornarem-se crianças também.
Subiram ao palco, riram, pularam, dançaram, cantaram e, assim, brincando, apresentaram aos alunos do Colégio ALARME, em São José do Rio Preto, o início do projeto “Gentileza Gera Gentileza”. Com duração de duas semanas, a atividade será concluída com um concurso que motivará todas as classes da instituição à criação de uma música, inédita ou paródia, que aborde o tema “ser gentil”. A classe vencedora escolhe o lugar para realizar um piquenique oferecido pela escola e a música escolhida passará a ser apresentada durante todas as atividades do colégio.
Mas... o que é, ou quem foi, Gentileza???
Uma outra história começa então.... Atormentado por um incêndio em um circo no final dos anos 60, o caminhoneiro José Datrino, de Mirandópolis – SP – vende tudo o que tem, dá o suporte necessário à sua família e então passa a viajar pelo país pregando que apenas a “gentileza gera gentileza”. Suas mensagens, fortemente fundamentadas na selvageria do incêndio assassino que levara a vida de mais de 500 pessoas - a maioria delas crianças, naquela manhã carioca - convidava a que todos se afastassem do capitalismo (capeta, para ele), que obedecêssemos aos mais velhos e, em especial, pais e mães e, em uma simbologia própria, escrevia MaRRRia – mãe de Deus – repetindo os “Rs” que, em sua compreensão, agregava ali a força do Pai, Filho e Espírito Santo.
Lembro com carinho das manhãs de missa aos domingos quando ele visitava sua família na velha cidade de onde também eu vim e então, na escadaria, deixava sua palavra e seu carisma. Não tínhamos máquinas fotográficas aquela época... mas na lente de minha lembrança lembro de um dia em que, se aproximando de um menino que com um pouco de medo olhava assustado da escadaria da igreja, ele pegou a criança no colo e falou baixinho “...obedece sempre o papai e a mamãe tá criancinha...”. Segui o que o senhor me pediu seu Zé Datrino, seu Gentileza.
Suas mensagens, deixadas em murais ao ar livre no Viaduto do Cajú, no Rio de Janeiro, compõe a íntegra de seu pensamento e convidam até hoje à reflexão de pessoa iluminada que gerou gentileza até o dia em que, cansado, deixou esta existência para passear com sua túnica e barba branca pelas estrelas. Deixou saudades.
Mas então, na ALARME...
Assim como as crianças, professores, coordenadores e voluntários também se encantaram com a apresentação que deu início ao projeto. Quanto a mim, voltei para minhas atividades capitalistas com a certeza de que apenas se pode ensinar aquilo que se vive e, neste campo, o time ALARME de educação ganha disparado em cada sorriso, abraço, chamada de atenção e aula para cada um dos alunos matriculados naquela escola. Gentileza gera gentileza, e isto se ensina, contudo, o “ser gentil” parece ser algo que nasceu com aquela equipe que, mais do que ensinar, educa, aprende e ama de verdade.