quarta-feira, 4 de julho de 2012

Final da Libertadores ou sobre os meus ídolos do futebol.... só que ao contrário






Quarta-feira, 04 de julho de 2012, final da Copa Libertadores ainda não começou mas os rojões tomaram o lugar do despertador ainda bem cedo... e faltava um dia inteiro para o grande dia. E por este mesmo dia inteiro os rojões continuaram e acentuam agora. Feliz ano novo?

Depois de uma hora de caminhada e a dúvida entre a novela da Carminha ou algum outro ócio menos criativo na TV, a sacada chama a atenção para um grupo de crianças lá embaixo gritando que um dos concorrentes vai cair de boca. De Boca...

1982. O menino tinha seis, sete anos e todos os domingos vivia o mesmo ritual. Almoço em família que ainda existia naquela época. Fogão a lenha no quintal preparava um dos frangos que também residiam por ali, polenta, macarrão. Farofa. Suco de laranja. Avó na ponta da mesa, pai ansioso, mãe sorridente, irmã calada e ele ali, esperando o início do fim. O pai levantava e seguia para um pequeno cochilo. Ao acordar, levava ele mesmo o menino ao banho e vestia nele o uniforme do time da cidade – MAC – Mirandópolis Atlético Clube – e de mãos dadas seguiam para a grande arena, quase vazia, onde sempre algum time das cidades vizinhas disputava com a estrela da Cidade Labor a quase pelada regional. Radinhos de pilha na mão e o sol na cabeça. Pipoca. Clima quente, quase áspero, e a bola corria.... Puta coisa chata! A criança nunca gostou daquele ritual e tão pouco entendia qual a graça naquilo tudo. Esporte? Diversão? Desculpa para quebrar o ócio domingueiro? Preparação para garantir a sobrevivência da família pelos dias da semana que estavam por vir?

Mas criança é criança e, naquela época, não tinha voz ativa. Mas tinha criatividade. E então o menino descobriu que o pós almoço seria o momento ideal para colocar em prática o que aprendera com outros de seus pares na escola. A mistura de pão seco com água morna, salgada, causaria em minutos uma crise de vômito capaz de colocar inveja a garota do filme Exorcista. E o plano, colocado em prática durante o cochilo do pai, sempre surtia efeito. “O menino está doente, comeu alguma coisa que não fez bem. Vai ficar em casa hoje.” Uma, duas, várias vezes, sempre funcionou.

O pai caminhava sozinho ao estádio, o garoto ficava. Brincava na casa dos vizinhos e gostava até mesmo de ver um deles, “Seu João”, cuja idade e o peso abdominal impediam de ir às partidas e se movimentava na poltrona como se estivesse ele mesmo em campo. Certa vez o acento virou sobre ele e mesmo ali, no chão, o rádio continuou narrando os dribles que não podia ver.

O pai nunca soube ao certo o motivo dos vômitos repentinos, mas ficava feliz em ver o menino brincando em casa quando voltava. Até o dia em que descobriu que enquanto acompanhava os chutes na grande arena, o menino refestelava-se entre pipoca e algodão doce na praça a dois quarteirões de sua casa onde no coreto, daqueles antigos de cidades antigas, uma banda de velhinhos tocava metais e liras além de um grande trombone. Fon fon, foron fon fon... era lindo, o menino gostava daquilo.

Quando o pai descobriu não houve grandes alardes. Naquela época criança ainda se educava com puxões de orelha, mas, também lá, qualquer olhada de um pai magoado valia mais do que meia dúzia de palmadas. Entendeu o recado, mas algo se quebrou. 

Quanto tempo se passou? Trinta anos? A paixão inversa pelo futebol ainda é presente na vida do menino, hoje sem pai, mãe ou as galinhas que dormiam no fogão a lenha onde também eram cozidas aos domingos. Para salvar o pai, a irmã corintiana do garoto resolveu o problema e hoje mesmo uma marca de café com o nome do time preferido é ostentada em sua cozinha. Os pacotes vazios nunca vão para o lixo e formam um painel até interessante entre a geladeira e a janela dos fundos. O menino ainda não entende de futebol, não gosta de futebol e em uma dessas copas do mundo refestelou-se em sua casa ouvindo Edith Piaf quando o Brasil perdeu para a França. Amor reverso, amor inverso. Ne me quite pás... Até mesmo o professor / mestre da faculdade um dia perguntou a ele se nunca havia feito um gol. Mais do que o espanto pela pergunta o susto por quem a fez. O professor não tinha pernas e do alto de suas próteses que por tanto tempo o menino, já rapaz, acompanhou, olhava para o discípulo (sim, discípulo, seguidor e filho) como se ele sim, o aluno, não fosse um ser humano completo. Todo mundo tem que fazer um gol!!!!

Na verdade, o rapaz nunca entendera certas paixões. Mesmo com sua tendência a gostar do que poucos gostam, de presentear-se a si mesmo com vinis de músicos que morreram antes mesmo dele nascer ou de seguir bandas de terras distantes chamadas por aqui de Islândia, não entende por que a alegria alheia deve ser compartilhada por ele.

As crianças continuam na rua. Naquele tempo criança também tinha hora para entrar em casa e gritar com os carros, jamais! Talvez devesse ter se empenhado mais com o pai a gostar um pouco das partidas varzeanas de domingo. De sol na testa, de pipoca, de radinho de pilha na orelha, mas nem todos são iguais, mesmo os filhos e aqueles a quem se deve a vida ou, no meu caso, a educação.

Melhor fechar a janela. Existe ainda um livro novo recém comprado para terminar de ler.... ouvindo, quem sabe, um tango de Gardel.

domingo, 1 de julho de 2012

Intercom Sudeste 2012 ou sobre a arte de ver conhecer








Participar junto a um grupo de alunos de um congresso de sua área sempre é uma experiência que engrandece. Na volta da edição 2012 do Intercom Sudeste, o Congresso de Comunicação que aconteceu no campus da Universidade Federal de Ouro Preto dos dias 28 a 30 de junho, a gente nota que aprende bem mais do que participando das discussões de nossa área docente, mas sim, observando o aprendizado que cada um trouxe consigo e, em especial, daqueles que se colocaram a aprender e conhecer.

...aprende que não importa quão longe digam que uma cidade é, se ela for em Minas Gerais, sempre vai ser mais longe do que qualquer estimativa medida em quilômetros,

...aprende que o brilho nos olhos de “bixos” e “veteranos” ao comentarem uma aula que assistiram e do quanto ficaram empolgados com ela é algo que não deve morrer nunca dos olhos de ninguém, ainda que este brilho se mostre no meio de uma padaria, enquanto acompanham o professor com sono devorando dois pastéis antes de protelar a última noite de festa,

...aprende que quem quer faz e vai, e faz rifa, faz brechó, economiza e viaja duro, briga para organizar os lugares mas viaja, e assim permite-se conhecer, arriscar, confia em você se for preciso mas confia neles mesmos antes de tudo, e assim, abre seus olhos, mente, alma, coração ao que existe além de nossas porteiras,

...aprende – ou relembra – que emoção não se dá apenas quando assistimos filmes de Spielberg. Afinal, estar frente a frente com José Marques de Melo, o sujeito que estudei por toda a minha graduação, é quase que uma prova do que aquilo que a gente aprende existe, anda, fala e tira fotografias,

...aprende que aluno ateu não pega fogo quando entra em uma igreja,

...aprende que a única operadora de celular que funciona sem falhas no trajeto Rio Preto / Ouro Preto é a Vivo, mas que o pacote de planos de ligações a R$ 0,5 centavos não é tão fantástica quanto parece – mas funciona,

...aprende que sempre é hora de reviver saudades, seja observando os amores de congresso que tem como prazo de validade a última palestra do dia ou as festas organizadas pela turma de melhores amigos recém conhecidos, que tira o foco do congresso mas deixa histórias que vão ser lembradas por toda a vida. A gente ri com eles e se emociona com seus sorrisos, por que diferente de nossa amarga carga profissional de resultados, o deles é puro e leve, é bonito...

...aprende – ou relembra – que não importa a tecnologia que exista ou falte dentro da sala de aula. Dentro dela, o principal aparato tecnológico sempre vai ser o aparato humano e que fomentar as relações dentro deste aparato é quase que a certeza de um trabalho bem feito, é a máxima de que na sala de aula todos são iguais e aprendem junto através do compartilhamento,

...vê com ternura os olhos que desbravam o desconhecido e se emociona quando está perto, seja nas ladeiras rumo a uma igreja, em uma praça histórica ou em uma antiga senzala que, expondo seus bibelôs de crueldade, faz com que nos envergonhemos de nosso passado, presente e futuro – nos faz sentir vergonha de pensarmos, algum dia, que fomos diferentes,

...aprende – ainda que morrendo de rir – que o medo de lobisomem, mula sem cabeça e loira do banheiro existe de verdade e tem a certeza de que é na família que formamos nosso caráter, nossos medos e nossos sorrisos (licença – Kkk),

...por fim, aprende que sempre é tempo de tentar uma vez mais... em especial, quando ouvimos de nossos pares que aluno X ou Y não tem jeito, não caminha e então, ao final da premiação dos trabalhos juniores, um destes X ou Ys olha pra gente e diz “...no ano que vem eu vou receber um prêmio assim”.... e então a gente chora tudo de novo e aprende, criançada, que sempre é muito bom caminhar do lado de vocês.
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